domingo, 26 de fevereiro de 2012
A vítima
A vítima do bullying sente‐se isolada e desprotegida, visto que a maioria das pessoas
que a cerca não enxerga o que está acontecendo. Motivo: Elas se sentem impotentes
para modificar a situação, ou são coniventes ou tendem a agregar‐se com a maioria
manipulada.
A vítima nesse caso é a que realmente podemos chamar de ”bode expiatório”. Sofre
uma espécie de preconceito. O mecanismo básico que explica o preconceito é: discrimina‐se alguém, que se torna
então o depositário das imperfeições que não admito ter. Traduzindo em miúdos:
atribuo defeitos, problemas, limitações e imperfeições a um outro que não eu. Na
psicanálise isso se chama mecanismo de projeção.
Cria‐se então um falso efeito no psiquismo do agressor e dos espectadores (nesse
caso a omissão é cúmplice da agressão), de que eles não têm imperfeições, de que são
desprovidos de problemas, que são “ótimos” e mais ainda, como efeito secundário, de
que são poderosos por conseguirem “abafar” uma vítima. Isso explica bastante o
porque do silêncio do grupo, da passividade conveniente e da falta de solidariedade
com a vítima.
Portanto quem sofre bullying é três vezes vítima:
Do agressor – que a ataca; de si própria – pois se sente impotente diante da situação;
do grupo – que escolhe um bode expiatório para transformar em um “bidê
expiatório”. Então fica assim: Eu ‐agressor e grupo espectador‐ sou ótimo, ela ‐a
vítima‐ é que é problemática, limitada, fracassada, coitada e por aí vai...
A vítima, geralmente ingênua, não sabe se defender, ou sua ética pessoal não permite
que use as mesmas armas de ataque contra o agressor e faça o mesmo jogo, ou então
não consegue ter atitudes incisivas que dêem um limite aos agressores. Muitas vezes,
deixa‐se derrotar pelos agressores. Outras vezes, acaba acreditando que é mesmo
tudo aquilo que o agressor e seus aliados lhe imputam como características ou
limitações.
Muitas vezes, tudo começa com alguns centímetros de altura a mais ou menos, um
pouco de peso a mais ou a menos, uma pele rosada ou com espinhas, inteligência e/ou
beleza a mais ou a menos, timidez a mais e, com certeza, auto‐ estima a menos por
parte da parte da vítima.
As características das “vítimas”, que viraram motivo de gozação e ofensa, são sempre
atributos muito comuns e naturais. Mas nas mãos de um agressor tudo muda: ele
transforma uma limitação em deficiência, transforma o infinitamente humano em
aberração.
Claro que esse triunfo, rigorosamente, não deveria ser considerado com tal, visto que
é um triunfo baseado em atos covardes, criando, artificialmente, uma diferença de
poder e de capacidade entre o agressor e o agredido. Por que inverter o sentido
clássico das palavras? Neste caso melhor chamar de triunfo da covardia.
FONTE'
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