terça-feira, 5 de junho de 2012

Escola vira referência contra bullying

Ele, um bailarino de 13 anos, sofria agressões físicas e verbais dos ex-colegas de escola. Ela, uma aplicada aluna de 9 anos, teve o braço quebrado por crianças de seu antigo colégio, há dois anos. Casos como o de Enzo Frizzo Paulino e N.M.S., que teve a identidade preservada a pedido da mãe, são comuns entre os alunos do Colégio Amorim, no Tatuapé, na zona leste.

Nos últimos três anos, quando o termo bullying ganhou destaque, a instituição se especializou em lidar com vítimas e agressores. Foi nessa época, segundo a orientadora educacional da escola, Clarice de Oliveira Chile, que o colégio se deu conta de que tinha uma metodologia afinada com o assunto. “Foi um caminho natural para o Amorim assumir a bandeira contra o bullying”, afirma.

Hoje, com 26 anos de existência e 1.500 alunos, o Amorim recebe por ano de oito a dez casos de estudantes envolvidos em bullying. O movimento ganhou força entre os próprios pais. No boca a boca, eles descobriram que, naquela escola, essas crianças encontravam menos hostilidade. Para isso, a escola adotou uma linha pedagógica baseada no respeito às diferenças e no “controle rígido das brincadeiras”, diz Clarice. “Não toleramos ‘brincadeiras de mãos’ e apelidos ofensivos. Atuamos com rigidez para evitar agressões”, completa.

Na segunda, a comissão de juristas que discute a reforma do Código Penal no Senado aprovou a criminalização do bullying, um conceito que não engloba apenas a agressão física. Um outro garoto do colégio, que pediu para não ser identificado, conta que finalmente se livrou dos apelidos “vareta” e “magricelo” que o acompanhavam no antigo colégio. “Quando descobriram que eu não gostava, não pararam mais de me ‘zoar’”, lembra.

A frase “o diálogo é capaz de resolver tudo” é repetida como um mantra por Clarice. Quando alguma atitude suspeita é identificada, os envolvidos são chamados pela diretoria. Numa dessas vezes, conta a educadora, vítima e agressores, que no passado estudaram juntos em um outro colégio, puderam pela primeira vez conversar. “É claro que hoje eles não são amigos, mas têm uma relação de respeito.”

Reuniões entre a diretoria e famílias para “mediar conflitos” são frequentes no Amorim. A própria reportagem contabilizou o atendimento de seis pais em pouco mais de duas horas de conversa. “Eles nos chamam para esclarecer qualquer problema”, diz a mãe da menina que teve o braço quebrado.

Atividades artísticas e esportivas também são usadas na prevenção do bullying. “O tema deve ter uma abordagem interdisciplinar”, diz Clarice. “O garoto que não é tão querido na sala de aula, por exemplo, pode ter ótimo desempenho no esporte e ser querido pelo time.” A escola mantém times de várias modalidades esportivas, formados por alunos de salas diferentes.

O bullying também é tema de uma campanha permanente na escola. “Promovemos debates sobre os casos e propomos soluções. Também produzimos e distribuímos material sobre isso”, lembra Clarice. São usadas, ainda, peças de teatro e outras produções artísticas para dialogar com os alunos sobre as diferenças e os direitos individuais. Enzo, por exemplo, está preparando uma apresentação de dança para falar sobre o bullying.

A iniciativa, bem-vista pelos pais, é tratada com ressalvas por especialistas. “Parece-me que as crianças são colocadas numa bolha. Não devemos escondê-las da realidade, mas sim prepará-las para enfrentar o bullying”, diz a psicopedagoga Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Doutora em Serviço Social, Mônica Silva, da Coordenadoria da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo, tem a mesma opinião

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/jt-cidades/escola-vira-referencia-contra-bullying

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